sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Resenha: Massacre no bairro chinês


''Massacre no bairro chinês'' foi um filme lançado em 2009 - na época, chegou a ser proibido na China - que tem Tietou(Jackie Chan) como protagonista. Nele é retratada uma onda de migração ilegal de chineses, na década de 90, buscando melhores condições de vida no Japão.

Nesse contexto se insere Tietou, um tratoreiro chinês que, também, chega ilegalmente no país. Ao contrário da maioria que partia por razões econômicas, ele vai ao Japão em busca de sua namorada, que não mandava notícias há tempos. Conseguindo se esconder por 2 dias das autoridades japonesas, Tietou finalmente chega a uma casa de chineses ilegais, onde seu irmão, Jie, lhe introduz no cotidiano de seus compatriotas.

A partir daí, o protagonista aprende como enganar os orelhões japoneses, trabalha em ''trabalhos que ninguém quer fazer'', como catador em um lixão, etc. Com o tempo, ele consegue coordenar o resto dos chineses nos trabalhos ''sujos'' de maneira mais eficiente, conseguindo mais lucro e uma melhora na qualidade de vida do grupo. Como resultado desse sucesso, o grupo consegue juntar dinheiro para realizar um sonho do irmão de Tietou: um carrinho para vender castanhas.

Após essa calmaria, ocorre um fato que marca o resto da história. Jie é pego em um esquema dentro de um cassino pertencente à Yakuza - pronuncia-se Yakuzá. Como punição, ele é espancado, cortado e perde sua mão direita. Inconformado, Tietou se infiltra no cassino da Yakuza na tentativa de vingar seu irmão. Acontece que Tietou acaba salvando a vida de outro membro da organização que estava prestes a ser, devidos a conflitos internos na máfia japonesa, morto pelo chefe do cassino. Grato por salvar sua vida, esse membro acaba introduzindo Tietou na organização como uma espécie de associado; ele faria certos trabalhos para a organização sem jamais ser incorporado à ela.

Aí começa algo que marca o resto do filme: a transformação dos imigrantes de pessoas amigáveis e frágeis em indivíduos agressivos e poderosos - há no próprio filme tomadas de, provavelmente, um sociólogo entrevistado explicando a lógica desses grupos, como os chineses e a Yakuza. Tietou, por exemplo, aceita assassinar vários membros da Yakuza; seu irmão torna-se brigão e usuário de cocaína; os outros chineses começam a traficar drogas e se envolver ainda mais com a máfia. Isso tudo é sintetizado por uma fala da ex namorada de Tietou, em que ela comenta que os seres humanos tornam-se gananciosos e exigem mais e mais.

Enfim, esse filme retrata bem a transformação - nesse caso, para o mal - que sofrem os indivíduos que não são absorvidos dignamente pela economia, tendo que se comportar e viver à margem da sociedade. Além disso, ele permite ver Jackie Chan como um ator, ao invés de ser tratado como mero ''mestre de artes marciais''. Recomendo- o para os interessados nos problemas sociais e como isso afeta os principais afetados: os marginalizados; quem estiver procurando por um mero filme de ação, provavelmente não gostará.



terça-feira, 25 de setembro de 2012

O conservadorismo se renova


Viés é quando informações são selecionadas em detrimento de outras. Assim, quando Zézinho fala à mãe que um vizinho gritou com ele e omite que isso ocorreu porque ele quebrou a janela daquele, ocorre um viés. Recentemente, isso também ocorreu no programa ''Bom dia Brasil'': em um dado momento, o programa noticiou que uma manifestação, reivindicando moradia, havia bloqueado uma importante rodovia paulista.

Apesar de a todo momento o jornal afirmar que estava comentando sobre o movimento(''voltamos agora com a manifestação''), o telejornal se limitou a comunicar o que foi descrito acima: os manifestantes a favor da moradia bloquearam a rodovia y. Em nenhum momento foi veiculado pelos - supostos - jornalistas informações relevantes a respeito de quem eram os manifestantes, quais os coordenadores do movimento, se havia algum partido envolvido na mobilização.

Pelo contrário. O programa, em franca censura à liberdade de expressão, tangenciou o assunto. Ficou discorrendo sobre a importância da dita rodovia para a cidade de São Paulo, o tamanho do engarrafamento decorrente do bloqueio feito pelos manifestantes, a reação dos motoristas à barragem. Enfim, nada que aprofundasse o que de fato era importante: a manifestação.

Como consequência desse viés, claramente conservador e anti-democrático, há a alienação e, potencialmente, um desprezo inoculado no tele-espectador. Alienação porque o cidadão é afastado de certas informações, como o déficit habitacional(falta de moradia para as pessoas) e os movimentos que lutam para que isso acabe; desprezo porque, não sabendo do contexto de problemas como esses, ele acaba tendo a idéia de que coisas desses tipos são coisas de ''desocupados'', ''vagabundos'', gente que não quer ''ralar'' - afinal, o cidadão em questão não sabe que existem carências sociais que requerem mais do que mero empenho individual para serem resolvidas. O conservadorismo se renova.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Por que sou ateu?


Longe de não acreditar em Deus por considera-lo ''um delírio'' por si só, sou ateu por achar contraditório que Ele, perfeito e bom, coexista com essa realidade, imperfeita e má. Ora, como pode Deus tolerar que crianças sejam subnutridas, que inocentes sejam mortos ou mutilados em guerras, como a que se desenvolve na Síria atualmente?

Como diria Epicuro: ''ou Deus pode evitar as catástrofes ou não pode. Se pode e não o faz, não é bom. Se não pode, não é onipotente. Se não é bom, não é Deus, não existe. Se é impotente, não é Deus, não existe.''

Muitos contestam esse raciocínio afirmando que o mal não é culpa de Deus, mas sim do Homem, que o gera com suas más ações. No entanto, mesmo que Ele não pudesse ser julgado pela origem do mal, Ele o pode ser julgado pela permanência desse.

Ora, sendo Deus onipresente, onipotente e onisciente, por que ele não se revela para a humanidade, de modo a guia-la para uma prosperidade geral? Prosperidade em que não haja fome, medo, guerras, enfim, sofrimento? Se ele nada faz, ele compactua com o mal; ou seja, o paradoxo de Epicuro! Deus, se compactuar com o mal, poderá ser talvez um ente poderoso; um Demiurgo que, apesar de ser mais que nos meros humanos, continua limitado e falho. Não Deus.

Outro ponto frágil dessa argumentação é a de que Deus, sendo onisciente, certamente saberia o que suas criaturas terminariam por fazer; ou seja, ele saberia que haveriam as cruzadas, a inquisição, o massacre de Ruanda, a miséria no continente africano, etc. Mesmo assim, Ele não alterou a Criação de modo a impedir eventos como esses, eventos sofridos. Novamente, o paradoxo.

Diante da nossa sofrida realidade humana, outros argumentam de que tudo isso faz parte de um plano divino. Deus estaria testando, por exemplo, nossa fé ou nos preparando para uma iluminação espiritual - como afirma o Espiritismo. Ora, em ambos os casos o Homem é coisificado, tornando-se um objeto nas mãos de Deus para que ele cumpra sua Providencia.

Algo assim é cruel, pois não respeita a autonomia de um ser inteligente, como o ser humano. Se ha de fato livre arbítrio, por que Ele não expõe seu plano e pergunta se o aceitamos? Afinal, por que não criar um realidade sem sofrimento? Alias, para que serve a Criação? Se Deus é perfeito e, portanto, reúne todas as virtudes, Ele não deveria bastar a si mesmo? Para que perder tempo criando algo e, no nosso caso, algo tao torto e errado?

Enfim, por esses motivos sou ateu. A proposito, isso não significa ter certeza que Ele não existe, mas sim acreditar ou considerar como mais provável que Ele não exista. De modo eu e, acredito, outros ateus não temos problemas em debater com teístas, religiosos ou não, a existência de Deus. Ao contrario do que muitos ateus deixam transparecer, o ateísmo não é um fato cientifico.